O
toque de umas mãos macias e reconfortantes é cada vez mais especial porque é um
toque de mãos especiais. Pudera, é um toque teu, então sempre especial. No
entrelaçar dos teus dedos nos meus, é como que dois corpos se fundissem numa
espécie de ser inigualável e desconhecido, contudo tão forte e tão belo. São os
teus dedos que saciam os meus, os meus servem-se dos teus para se sentirem
possuídos e amados. Agora não tremem! Nem transpiram! E porque os teus dedos
são especiais e por serem teus são especiais - e por fazerem os meus se
sentirem especiais - tornam-se ainda mais especiais. Só porque são teus.
Num
abraço onde os meus braços jogam com os teus, encaixam como uma peça num puzzle,
e o meu tronco cola-se ao teu, eu deixo de existir, deixo de sentir os meus pés
pousados no sólido chão. Fico descalço e ganho asas, asas que não voam mas
flutuam, parece que tu me seguras com o teu olhar de longe. Sim, porque o teu
corpo naquele instante também é meu, e o meu é teu, eu já não sei o que nos
distingue. Apenas sei que naquele momento tudo à nossa volta está deserto até
porque nada existe a não ser o nosso abraço. E por ser o teu abraço é especial,
não só por ser teu, mas por me proporcionar o que me proporciona, não só por
ser um abraço, mas também por ser o teu abraço. Por isso um abraço especial,
por isso me é concedido a magia do céu. Só porque a tua cabeça se encosta ao
meu ombro.
Num
beijo ofegante, numa junção de dois lábios húmidos de sede de se beijarem, no
leve fechar de olhos, eu figuro-me transcendente até o meu humanismo
se esconder dentro da minha língua. Na escuridão da minha visão vejo
perfeitamente o teu rosto. Admiro-te antes de derradeiramente fechar os meus
olhos antes do beijo, e a tua imagem fica, deixo de ser composto por sangue, é
a tua expressão que me invade e que me preenche, como ondas fortes
a destruírem o areal de uma praia. Quando, depois do afastamento dos
lábios, trincados de seguida pelos nossos dentes como sinal do nosso desejo,
tudo o que é físico em mim adormece, menos a boca que sorri e os
olhos que brilham de um brilhar inocente; não consigo afastar-me mais de meio
centímetro da tua cara, e, os meus lábios mais uma vez tremem. Sofrem por ti,
pelos teus lábios. Porque querem-te beijar, o teu beijo especial. Aquele que
por ser dado pelos teus lábios, pela tua língua, torna-o especial; por ser
sentido por ti já por si só é especial. É especial não porque é um beijo, mas
sim porque é o teu beijo, o nosso beijo. Será sempre especial para nós!
Amanhã quando acordarmos vamos sentir o toque da mão
de cada um, o corpo um do outro perto apesar de distante, e vamos sentir os
lábios que ainda ontem foram beijados e tudo vai parecer uma insanidade, uma
ilusão fresca e recente, um sonho precoce, uma irrealidade desejada... No
entanto, quando finalmente saborearmos o nosso paladar e sentirmos o aroma que
nos circunda aperceber-nos-emos que o sabor é maravilhoso e bem real, e o
cheiro é imensamente bom e bem presente. Porque afinal tu existes e eu existo.
E nós, nós somos especiais por sermos nós! E nós tornamo-nos especiais por
existirmos e sabermos da existência um do outro. Amanhã ou depois de amanhã
continuaremos a ser especiais, porque isso não morre.