Quem me pode condenar por a
morte me aterrorizar? Eu sou a Vida e temo que deixe de o ser, pois o nada é o meu maior inimigo; não que me
considere tudo num sentido estrito e
literal de tudo, mas entendo que se o
meu nome é Vida este pressupõe realidade, matéria, forma, paixões, pensamentos,
prazeres – como, por oposição, certas irrealidades (os sonhos por exemplo),
imatéria (fundamentalmente conceitos dos quais eu, entre muitos outros, sou
criador), ausência de paixões e pensamento (sou livre de não sentir e/ou
pensar), desprazeres. Possivelmente, isto que apresentei pode não estar inteira
e inequivocamente conotado como sendo tudo,
compreendo e aceito que assim é. Até porque se o tudo fosse este tudo,
naturalmente resignar-me-ia, acomodar-me-ia e deixaria de ser Vida para me
transformar num ser imutável, infalível e essencialmente estagnado. Ora, o meu
nome não se coaduna com estas palavras.
Concluo, portanto, que tudo não sou e nem será esse o objectivo que devo procurar. Concluo também que não quero ser nada porquanto apesar de possuir um significado antitético de tudo, são dois conceitos equivalentes.
Eu que sou Vida, não temo o tudo porque
este é inatingível enquanto tudo, mas
inevitável enquanto nada. O que é a imutabilidade, a infalibilidade, a
estagnação – e outros nomes a estes subjacentes – do que meros atributos do nada? A evolução, a continuidade, a mutabilidade
e, por aí adiante, estes sim são efectivos atributos da minha personalidade
enquanto aquilo que sou – Vida.
Assim, o medo da morte é-me
intrínseco, até porque, na verdade, ela é minha parente: a minha filha
bastarda. Não me condenem por ter medo dela, é ele que me faz viver ainda mais;
é resultado deste medo que o meu nome é Vida; é de todo preferível temer a
morte do que morrer ainda vivo. Eu sou a Vida e, inexoravelmente deixarei de o
ser, mas jamais mudarei o meu nome para Morte quando em vida.
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