tag:blogger.com,1999:blog-54389046072740221572023-11-15T06:31:34.088-08:00Cela da RazãoA razão não é mais do que uma pequena cela bem decorada e acolhedora, com uma janela sem grades de onde podemos avistar qualquer paisagem ou cenário; sendo, contudo, possível libertarmo-nos, avançando-a e encarando a livre irracionalidade.Unknownnoreply@blogger.comBlogger8125tag:blogger.com,1999:blog-5438904607274022157.post-15272158671781606062020-05-15T04:01:00.001-07:002020-05-15T04:01:17.724-07:00Beijo.<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">O
toque de umas mãos macias e reconfortantes é cada vez mais especial porque é um
toque de mãos especiais. Pudera, é um toque teu, então sempre especial. No
entrelaçar dos teus dedos nos meus, é como que dois corpos se fundissem numa
espécie de ser inigualável e desconhecido, contudo tão forte e tão belo. São os
teus dedos que saciam os meus, os meus servem-se dos teus para se sentirem
possuídos e amados. Agora não tremem! Nem transpiram! E porque os teus dedos
são especiais e por serem teus são especiais - e por fazerem os meus se
sentirem especiais - tornam-se ainda mais especiais. Só porque são teus.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Num
abraço onde os meus braços jogam com os teus, encaixam como uma peça num <i>puzzle</i>,
e o meu tronco cola-se ao teu, eu deixo de existir, deixo de sentir os meus pés
pousados no sólido chão. Fico descalço e ganho asas, asas que não voam mas
flutuam, parece que tu me seguras com o teu olhar de longe. Sim, porque o teu
corpo naquele instante também é meu, e o meu é teu, eu já não sei o que nos
distingue. Apenas sei que naquele momento tudo à nossa volta está deserto até
porque nada existe a não ser o nosso abraço. E por ser o teu abraço é especial,
não só por ser teu, mas por me proporcionar o que me proporciona, não só por
ser um abraço, mas também por ser o teu abraço. Por isso um abraço especial,
por isso me é concedido a magia do céu. Só porque a tua cabeça se encosta ao
meu ombro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Num
beijo ofegante, numa junção de dois lábios húmidos de sede de se beijarem, no
leve fechar de olhos, eu figuro-me transcendente até o meu humanismo
se esconder dentro da minha língua. Na escuridão da minha visão vejo
perfeitamente o teu rosto. Admiro-te antes de derradeiramente fechar os meus
olhos antes do beijo, e a tua imagem fica, deixo de ser composto por sangue, é
a tua expressão que me invade e que me preenche, como ondas fortes
a destruírem o areal de uma praia. Quando, depois do afastamento dos
lábios, trincados de seguida pelos nossos dentes como sinal do nosso desejo,
tudo o que é físico em mim adormece, menos a boca que sorri e os
olhos que brilham de um brilhar inocente; não consigo afastar-me mais de meio
centímetro da tua cara, e, os meus lábios mais uma vez tremem. Sofrem por ti,
pelos teus lábios. Porque querem-te beijar, o teu beijo especial. Aquele que
por ser dado pelos teus lábios, pela tua língua, torna-o especial; por ser
sentido por ti já por si só é especial. É especial não porque é um beijo, mas
sim porque é o teu beijo, o nosso beijo. Será sempre especial para nós!<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-size: 11pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Amanhã quando acordarmos vamos sentir o toque da mão
de cada um, o corpo um do outro perto apesar de distante, e vamos sentir os
lábios que ainda ontem foram beijados e tudo vai parecer uma insanidade, uma
ilusão fresca e recente, um sonho precoce, uma irrealidade desejada... No
entanto, quando finalmente saborearmos o nosso paladar e sentirmos o aroma que
nos circunda aperceber-nos-emos que o sabor é maravilhoso e bem real, e o
cheiro é imensamente bom e bem presente. Porque afinal tu existes e eu existo.
E nós, nós somos especiais por sermos nós! E nós tornamo-nos especiais por
existirmos e sabermos da existência um do outro. Amanhã ou depois de amanhã
continuaremos a ser especiais, porque isso não morre.</span></span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5438904607274022157.post-60292386467602502052020-05-13T04:28:00.001-07:002020-05-13T07:06:28.587-07:00Conhecimento.<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.45pt;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Pudera
ser eu a luz do Sol que tudo ilumina e a luz escura da noite que tudo escurece.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Pudera
conseguir atrair para mim todo o conhecimento - o certo e o errado - sem que para
isso comece lutas interiores destrutíveis.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Uma
guerra com batalhas diversas, umas (poucas) ganhas outras perdidas, vai-me
desgastando progressivamente e, contraditoriamente, vai-me também fazendo ter motivação
para viver. Porque viver é conhecer, conhecer é viver. Respirar é o início da
aprendizagem, viver é desenvolvimento dessa aprendizagem e a vida como um todo
é o conhecimento (quase) absoluto.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Respirar
não custa: é inato; viver é vento que nos leva para onde ele assim quiser,
resta-nos forçar o caminho que achamos melhor, mesmo que seja em sentido inverso
- poderá ser bastante doloroso. A vida é um sonho: algo a alcançar, mas
demasiado inalcançável - o conhecimento absoluto nem existe em nós, porque nem
sequer temos a noção do que é absoluto, não há um limite.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Continuo com esse sonho,
com essa guerra que me invade como um inimigo pronto a atirar e a ganhar. Eu
respondo com tiros de saberes superficiais, com o desejo de mais.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5438904607274022157.post-31282453727905637792020-05-12T04:56:00.002-07:002020-05-12T04:57:39.128-07:00Maratona.<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Era
escuro, a noite negra de indiferença, adormecida no nada de uma avenida sem
fim. Sentia-se o aroma irritante de um elemento desconhecido, talvez mijo de
gato, ou quem sabe, de humanos que sem qualquer pudor, com alguma dificuldade
em controlar o seu corpo, não hesitaram em aliviar o de mais sofrimento. A
música surda de sons inexistentes, mas que existem no nosso imaginário -
conseguimos, então, ouvir o nosso inibido pensamento. A voz do cérebro impõe-se
perante nós, perante todo o nosso corpo físico, perante a nossa visão, como que
sem explicação falasse para nós...e não éramos nós. E eu pergunto: quem seria?
Quem será tão mal educado e rude para invadir a nossa restrita consciência?
Quem entra em mim? Quem fala comigo? Serei eu? Quem sou eu?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Agosto,
na virtude do mês, num ano desinteressante como já há muitos permanecia; noite,
noite, a madrugada a caminho, e eu andando ligeiramente, por vezes, um pouco
lento quando algo me intrigava por mais inútil que fosse, pelas ruas, e que
ruas? Porque nada me interessava, o sítio não me interessava, os carros não me
interessavam, ninguém me interessava, eu não me interessava por mim, a vida não
me interessava naquele momento. O momento era, incompreensivelmente não meu e
pouco existente. No fundo, sei que aqueles minutos intemporais foram nada,
foram pertencentes a uma alma desconhecida de alguém que não conheço. Sim,
desconhecia e desconheço qual a alma que me fala ao ouvido directamente para a
minha camada cinzenta dentro de mim criada pelo meu inconsciente. No entanto,
tudo fazia sentido mas nada era racional.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Perante
isto, hoje questiono-me se vale a pena questionar-me. Sei que cada vez menos
sei, por isso, para quê compreender o que não se compreende? Hoje, as
diferenças e as semelhanças continuam, mas com menos clareza e, ao mesmo tempo
com mais sabedoria. A vida corre como numa maratona, há quem desista porque não
consegue prosseguir; há quem se arraste porque não tem coragem e a estupidez de
desistir; há quem se situe em último porque faz o que pode, é bravo e
persistente, mas é incapaz; há quem se deslumbre no primeiro posto, no entanto,
as surpresas e as desilusões acontecem, não controlamos o nosso corpo, nem em
sonhos a nossa vida; há, ainda, quem corra com prudência, mas sempre ao mesmo
nível, a bom nível rumo ao triunfo; há, por ultimo, quem participe na maratona
porque por coincidência lá foi parar, interrogando-se assim o que lá está a
fazer, o que faz com que ele corra. E, neste caso, normalmente, estes pensam
mais do que correm, teorizam mais do que agem, e então, não saem do mesmo
sítio, da mesma posição, da vida monótona e triste. <o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Neste último grupo de pessoas estou eu incluído.
Porquê, eu não sei! Sei, pois, que vejo em tudo o nada e no nada o tudo.
Tento-me revoltar mas não consigo, tento acordar mas num sono vivo...morto.</span></span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5438904607274022157.post-5099572174360045952020-05-11T06:17:00.001-07:002020-05-11T06:20:54.058-07:00Mapa.<br />
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Nascer é a primeira grande
vitória, mas se não continuarmos a vencer ela facilmente transfigurar-se-á em
derrota, a maior e mais proeminente derrota. Pode-se objectar dizendo-me que a
morte, essa sem dúvida é a pior e imensa queda, além de frustrante –
salvo raras lamentáveis excepções –, visto consistir numa inexorabilidade, injustiça e
incontrolabilidade indubitável. Respondo afirmando que tudo aquilo que não é já
vida, mas o fim desta, é uma simples contingência da nossa natureza, enquanto
que quando em vida só nós próprios impossibilitar-nos-emos, seja por
voluntarismo ingénuo, seja por pura incapacidade, seja, pior ainda, por ignóbil inércia e execrável ócio, de vencer continuamente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Entendo as nossas limitações, como penso todos nós entendemos, se não entendem começa desde aí o erro e o
princípio para a derrota eterna; conheço também todas as nossas virtudes
enquanto Homem, tal significa que conheço bem a terra que piso, no entanto
avisto frequentemente o céu que me vai pairando. Por isso, o ser humano olha para os seus pés, para a terra que os sustenta e interpreta subjectivamente -
porque todos apesar de homens somos acima de tudo sujeitos – qual os passos
limitativos e sinuosos do caminho a percorrer, para que depois de interpretados
possa aí sim iniciar a sua caminhada já de cabeça erguida para o céu, o mesmo é
dizer, para a vitória. Quero com isto demonstrar que, porventura, não
alcançaremos o céu, não voaremos, não ganharemos asas, é essa uma das nossas
físicas limitações; contudo, como seres pensantes voamos com asas ainda bem
mais belas e eficazes, e no percurso que aceitamos e escolhemos explorar, as
vitórias são conseguidas etapa a etapa, estrada a estrada: todas elas são
vitórias. Parar, perdermo-nos no mapa que de antemão delineamos são sintomas de
derrota. Sentir que em breve pararemos ou que nos perderemos são sintomas
derrotistas, que apenas levam ao porto da derrota. Vencer caminhando só se
conseguirá pensando que estamos a vencer, que continuaremos a vencer e que
qualquer contratempo não passa disso, um contratempo, resolúvel com mais uma e
outra, e mais outra revisão do mapa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Estejamos, todavia, alertados
para a presunção, ilusão, arrogância e maldade. Nada atingiremos sem uma dose,
mais do que significativa de realismo, sem que se confunda realismo com
pessimismo e resignação; nada atingiremos às cavalitas de outros, nem de nós
próprios: não sejamos mais do que aquilo que somos verdadeiramente em cada
ocasião e situação, não sejamos menos do que aquilo que somos verdadeiramente
em cada ocasião e situação, e não sejamos medíocres e maldosos para com os que
nos rodeiam porque no fim a taça estará nas nossas mãos, mas em vez de
vinho terá veneno. Pior, a vitória
saberá a derrota pois ganhar à custa de outros é desviarmo-nos para uma outra
estrada: a da perda de personalidade e identidade. Não é isto que deve ser
entendido como vitória, compreendo a vitória como uma superação constante de
novos desafios, insisto, olhar para o mapa desenhado a nossa gosto depois de
minimamente conhecer o mundo, e dentro do possível profundamente a nós
próprios, e assim assinalar todos os pontos do mesmo que fomos passando, e
quaisquer outros que ainda possamos ao longo do tempo desenhar. O mapa é
infinito, a nossa vida não. O nosso corpo é contingente, a nossa razão dizem
que sim, mas os sonhos, desejos e vontades absolutas que racionalmente nos
vamos cercando são ilimitados. Pois bem, é nisso que consiste o mapa. Pois bem,
a vida consiste em ganhar. Como? Desenhando-o (o mapa), percorrendo-o,
desenhando mais sempre que atingidos os pontos fulcrais, e assim sucessiva e continuamente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">O homem nasce da vitória
festejando o seu nascimento com gritos e grande aparato, e, não obstante morrer
- sendo que essa é uma tremenda derrota da natureza –, é nosso dever fechar os
olhos para a eternidade com uma sensação silenciosa e emocionada de vitória.
Honremos o que somos, trabalhemos para ganhar não só durante toda a vida mas também
no momento da morte com um último pensamento suspirante: “Venci!”.</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5438904607274022157.post-15717635346587950912020-05-08T04:23:00.000-07:002020-05-08T04:23:04.420-07:00Vida.<br />
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Quem me pode condenar por a
morte me aterrorizar? Eu sou a Vida e temo que deixe de o ser, pois o <i>nada </i>é o meu maior inimigo; não que me
considere <i>tudo </i>num sentido estrito e
literal de <i>tudo, </i>mas entendo que se o
meu nome é Vida este pressupõe realidade, matéria, forma, paixões, pensamentos,
prazeres – como, por oposição, certas irrealidades (os sonhos por exemplo),
imatéria (fundamentalmente conceitos dos quais eu, entre muitos outros, sou
criador), ausência de paixões e pensamento (sou livre de não sentir e/ou
pensar), desprazeres. Possivelmente, isto que apresentei pode não estar inteira
e inequivocamente conotado como sendo <i>tudo,
</i>compreendo e aceito que assim é. Até porque se o <i>tudo </i>fosse este <i>tudo,</i>
naturalmente resignar-me-ia, acomodar-me-ia e deixaria de ser Vida para me
transformar num ser imutável, infalível e essencialmente estagnado. Ora, o meu
nome não se coaduna com estas palavras.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Concluo, portanto, que <i>tudo </i>não sou e nem será esse o objectivo que devo procurar. Concluo também que não quero ser <i>nada </i>porquanto apesar de possuir um significado antitético de <i>tudo, </i>são dois conceitos equivalentes.
Eu que sou Vida, não temo o <i>tudo </i>porque
este é inatingível enquanto <i>tudo, </i>mas
inevitável enquanto nada. O que é a imutabilidade, a infalibilidade, a
estagnação – e outros nomes a estes subjacentes – do que meros atributos do <i>nada</i>? A evolução, a continuidade, a mutabilidade
e, por aí adiante, estes sim são efectivos atributos da minha personalidade
enquanto aquilo que sou – Vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-indent: 35.45pt;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Courier New, Courier, monospace;">Assim, o medo da morte é-me
intrínseco, até porque, na verdade, ela é minha parente: a minha filha
bastarda. Não me condenem por ter medo dela, é ele que me faz viver ainda mais;
é resultado deste medo que o meu nome é Vida; é de todo preferível temer a
morte do que morrer ainda vivo. Eu sou a Vida e, inexoravelmente deixarei de o
ser, mas jamais mudarei o meu nome para Morte quando em vida.<o:p></o:p></span></div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5438904607274022157.post-17087857438539883092020-05-07T04:53:00.001-07:002020-05-07T07:34:48.895-07:00Futuro.<br />
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Cala-te! Endoideço em te ouvir
não falar, por entre e através de mim. Deixa-me futuro, deixa-me, por favor, em
paz! Peço-te! Imploro-te! Criei-te por minha imaginação e da minha mente
fizeste tua, possuíste-a sem que te desse tal autorização, contra minha vontade
infringiste a mais suprema das regras definidas por mim: passaste ao controle.
Devo ser deus de mim próprio, e tu diabólico futuro transformaste-te, sem que
me apercebesse, em meu deus; o meu deus é agora o diabo, portanto, sou eu agora
o diabo de mim próprio, quando o que eu sempre quis – e continuo a querer – foi
ser o meu Deus. Desacreditei perante todo o meu mundo os mais variadíssimos
deuses para que o meu fosse magnânimo para, por fim, ele deixar de existir por
substituição do diabo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Cala-te! O teu silêncio ensurdecedor faz-me doer a cabeça. Cala-te, fala mas cala-te! Entendes? Podes aí
estar, é inevitável que estejas, mas não lances a chama da loucura para diante
de mim. A minha loucura pessoal basta-me, não necessito nem me interessa a tua.
Duas loucuras somadas dão um resultado infundado, de loucura desmedida,
incalculável. Quero ser presente na minha presença; quero ser louco na minha
loucura; quero ser ser no meu ser; quero pensar o presente, porventura o
passado (não me parece mal); quero morrer já, se assim tiver que ser – não quero
morrer em antecipação; quero ter-me aqui comigo e não lá onde ainda não estou.
Por isso, vai, vai-te embora, para o teu lugar. A gruta do futuro é no futuro, é
impenetrável. Porque é que então me fazes entrar nela? Porque me fazes
escuridão, ruído silencioso e matéria intangível? Gentilmente solicito-te que
te cales, mas como, se estou preso na tua gruta? Só saindo dela calar-te-ás, não
que deixes de zumbir nos meus e de todos os ouvidos, mas porque deixarei de ser
teu escravo. Pode um senhor não sequer falar ou gritar com o seu escravo, contudo
este último não deixará de o ouvir, de lhe incomodar. A liberdade é o objetivo,
torturante desejo que impede o silêncio. Quero ser livre de ti meu senhor
futuro, meu diabo!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Cala-te! Liberta-me! Liberto-me,
tenho e devo que me libertar. A liberdade está nas minhas mãos. Permito-me
convencer de que é possível mandar de volta o diabo que, de momento sou, para o
Inferno e chamar o deus que havia em mim de volta. Conseguirei regressar à
minha omnipresença presente abrindo a barreira invisível que separa a gruta do
mundo livre e presencial. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Calei-te? Ah pois!, não mais voltar-me-ás a ter, pois
serei para sempre intemporal, imortal na minha contingência. Até sempre. Ou
será até quando?<o:p></o:p></span></div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5438904607274022157.post-22366454599951955402020-05-05T06:54:00.001-07:002020-05-07T04:54:02.715-07:00Num Café.<br />
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Tomo um café. Fumo um cigarro.
Depois outro. “Está frio”, ouço por entre outras palavras, umas percetíveis
outras não, que são soltas e propagadas num espaço onde coexisto com esses
seres falantes. Olho lá para fora e tudo é radicalmente diferente mas maravilhosamente
semelhante ao que aqui dentro deslumbro. Ao meu redor, neste pequeno espaço
interior, sou alguém, mesmo que numa micro-escala, sei que, se sair e abrir as
portas do exterior serei apenas mais um: invisível, indetetável e insensível
até para mim próprio. Opto e prefiro, portanto, ficar. Fumo mais um cigarro. E
penso. E sou alguém.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">A janela que me separa do
exterior reflete árvores despidas sem pudor nem frio, pessoas que, pelo contrário, respiram ar
gelado combatendo-o com roupas quentes sobre roupas quentes, ajeitando-as por
vezes quando estas teimam em não as proteger convenientemente, como se
tivessem vida própria. Todas estas pessoas caminham paralelamente aos carros que vão circulando na estrada. Não sei para onde
vão, nem os caminhantes nem os condutores e respetivos passageiros.
Possivelmente todos eles têm um fim nesta rotineira viagem, impossível porém de
o determinar. Sei sim que a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Grande Viagem</i>
comum a todos nós tem também em comum o seu destino. É dado adquirido, não o
debaterei por isso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Por ora, analiso o que os meus
sentidos me declaram. Vejo uma imensidão que me fere os olhos, todavia, é como
que se essa ferida me cegasse – tudo observo e nada se me deixa observar.
Quanto aos outros quatro sentidos posso simplesmente constatar o paladar, ora
agradável ora execrável a tabaco, embora compensado pelo sabor do café ainda presente; a audição já se perdeu em
bosques de sons exteriores e mares de sons (vozes) interiores, assim sou surdo
e tudo ouço, mas só a mim me faço ouvir, não compreendo pois o que ouço; o
tacto é caneta e papel, pouco mais a dizer; por fim, não tenho olfacto apurado,
digo então que cheiro palavras e pensamentos, sinto o perfume da escrita.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Dou por mim sentado e a fumar
novamente. Tanto movimento à minha volta e eu não saio do sítio. Mesmo que me
mova, na realidade continuarei imóvel enquanto os outros giram num carrossel
onde sou espectador. Posso correr a maratona, pode consequentemente o meu corpo
esgotar-se, continuarei mesmo assim, inerte. Podem todos os outros estarem<span style="mso-spacerun: yes;"> estáticos</span> e eu só interpreto movimento.
Enfim, parece que o que me é exterior é a Terra e eu sou Sol, um Sol, no
entanto, que nada ilumina nem se deixa iluminar. O Sol natural dá luz a tudo o
resto e eu que nem sei que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tudo o resto </i>é
esse.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Tenho a impressão de aqui estar
há uma eternidade quando só há pouco existo. Tenho, ao invés, a impressão de
que ninguém está aí, nem esteve, nem nunca estará. Existo e imobilizo-me
intemporalmente pensando. O tal <i style="mso-bidi-font-style: normal;">resto</i>
talvez exista, mas não pensando o seu pensar e o seu existir temporalmente
contínuo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Fumo o último cigarro. “Adeus” é
a última palavra que ouço. “Quem me fala”, é a primeira e eterna pergunta que
faço. Saio para o exterior e volto assim a ser mais um caminhando em direção
incerta, mas sem sair do sítio.</span><o:p></o:p></div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5438904607274022157.post-29163258453352380142020-05-04T06:29:00.000-07:002020-05-07T04:54:16.406-07:00A Carta.<div style="text-indent: 35.45pt;">
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Cara Razão,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">É com pleno e puro agrado que te
escrevo esta carta, a ti que estás em mim numa tal omnipresença que nada mais
existe a não seres tu. Escrevo-te com o objectivo de me aproximar por via das
palavras do Sol inatingível mas que me vai, quando possível, iluminando.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Quando me deixas na escuridão
lágrimas vão caindo como uma cascata de um rio outrora calmo, de corrente
subtil. O meu coração, em vez de sangue, bombardeia todo o tipo de sentimentos
e emoções desencadeando posteriormente em sofrimento ou em vulgar felicidade –
que não é mais do que outro género de sofrimento. Tu sabes, minha cara Razão.
Tu sabes que quando me abandonas, por motivos que te são alienáveis, eu deixo
de ser o ser que vai escrevendo esta carta, para ser o ser que vai lendo-a,
inundando-a de paixão desesperante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Por este meio, penso (lá está,
penso!) poder criar um elo de ligação imutável, indestrutível e inseparável que
consistirá por conseguinte numa constante troca de correspondência; mantendo,
por sua vez, o rio o seu percurso esperado, sem desagradáveis surpresas.
Quero-te (se quero tenho que poder) como o meu maior amor, como a natureza que
vai controlando a corrente da minha vida tão verdadeira e correcta quanto
puderes. Não deixes que os teus malditos adversários me conquistem, porquanto
eu sou teu, não naturalmente, mas por arte; nasci <i>terra de ninguém, </i>fui proclamado pelos demónios das sensações e
depois de numerosas e árduas batalhas fui conquistando a minha independência
com o intuito de entregar-ta a ti, minha mais-do-que-tudo. Não obstante o
inimigo estar não raras vezes à espreita, acredito nas tuas capacidades bélicas
de me defender dele e das suas prazerosas e indiscutíveis tentações. Acredito e
pretendo que esta carta reforce toda a tua confiança, que apesar de inabalável,
é necessário ter em conta toda a precaução, pois se és confiante podes não ser
o suficiente (ou não o ser eu) para me transmitires por inteiro e sem
hemorragias pelo meio essa confiança.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Querida Razão, as tuas armas
são-me indispensáveis e não as quero perder pois a guerra só terminará na
morte. Pensamento, ponderação, análise são das armas mais importantes contanto
não deixarem de ser mais sofisticadas, eficazes e superiores às armas
passionais do inimigo. Peço-te portanto que não deixes de trabalhar nelas e, no
que me diz respeito, vou também ajudando utilizando-as da melhor maneira
possível. Creio que juntos vamos conseguir ser melhores!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Por fim, terminando como
iniciei, declaro todo o meu amor por ti, sabendo eu que é recíproco. Ambos,
também o sei, entendemos que este amor não é o Amor que o adversário nos tenta
impingir, mas um amor mais alto, mais além, incomensurável. Minha Razão, a ti
me dedico, o mesmo é dizer, que a mim me dedico. Juntos somos Uno, juntos somos
mais e mais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Assim me despeço.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Para sempre teu,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: 12pt; text-indent: 35.45pt;"><br /></span>
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace; font-size: 12pt; text-indent: 35.45pt;">O Corpo.</span></div>
</div>
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